As coberturas sempre foram um elemento essencial na construção; muitos a designam como a “quinta fachada” e de facto, o seu valor estético tem cada vez mais importância. Aliás, é muito claro que a perspectiva das cidades deixou de ser apenas bidimensional. Com o recurso a imagens de satélite e vídeo e fotografias de drones, as cidades são cada vez mais coberturas e menos ruas e fachadas. As coberturas são hoje uma impressão digital das cidades em crescimento e mutação constante, e que muito contribuem para a sua identidade.

Todos os espaços da cidade são importantes para melhorar a qualidade de vida das pessoas, e as coberturas verdes também, podendo contribuir para essa melhoria de muitas formas:

  • como local para produção de alimentos; este facto permite diminuir a dependência alimentar do edifício e no limite da cidade. Há vários casos de restaurantes e até hospitais que produzem os seus vegetais na cobertura.
  • como espaço de lazer; pense quão agradável seria ter na sua cobertura um jardim para os miúdos brincarem? Em plena cidade e de forma segura…
  • como forma de atenuar algum ruído; um pequeno refúgio exclusivo e sem sair de casa.
  • para reter partículas suspensas e “absorver” a poluição, tão incómoda nas cidades;
  • para atenuar a má qualidade do ar exterior;
  • para reduzir o efeito de ilha de calor;
  • para reter temporariamente água pluvial em excesso e diminuir o risco de cheias;
  • como ilhas de biodiversidade…

De facto, as coberturas verdes têm inúmeras vantagens para as cidades e seus habitantes.

Uma delas, não tão intuitiva para as pessoas, mas muito relevante é a sua capacidade de isolamento térmico. A terra é um bom isolante térmico permitindo que a cobertura tenha boas propriedades térmicas. No entanto, numa cobertura verde é essencial a utilização de isolamento térmico e este tem que ter as características adequadas para esta solução construtiva. O isolamento térmico a utilizar nesta solução deve ter duas características imprescindíveis: bom comportamento em contacto com a água e boa capacidade de resistir ao peso da terra.

A correcta construção de uma cobertura verde pode melhorar significativamente o comportamento energético da cobertura e consequentemente do edifício.

Para estudar o impacto das coberturas verdes no desempenho energético dos edifícios foi realizado um estudo comparativo entre uma cobertura convencional e uma cobertura verde (tipo extensiva) numa casa unifamiliar em França. Foram consideradas temperaturas de referência de 19°C e 28°C (Inverno e Verão) e verificadas as seguintes vantagens:

  1. Na cobertura convencional, as amplitudes térmicas no suporte variam entre  ‐6°C no Inverno e 58°C no Verão; a cobertura verde permitiu manter as amplitudes térmicas na estrutura entre 4°C e 20°C no Inverno e verificou-se uma redução de até 30°C no Verão;
  2. No Verão, o efeito de arrefecimento passivo é 3 vezes mais eficiente na cobertura verde; no Inverno, nos dias mais frios, existem menos perdas de calor;
  3. No Verão, a temperatura interior diminuiu 2°C e as necessidades energéticas anuais diminuíram 6%;
  4. Os benefícios da cobertura verde na redução da temperatura interior no Verão e das necessidades de climatização dependem muito do isolamento térmico na cobertura;
  5. Estas coberturas são termicamente mais vantajosas em edifícios existentes do que em edifícios novos, pois apresentam benefícios mais significativos quando aplicados em edifícios sem ou com isolamento moderado.

Assim, concluiu-se que as coberturas verdes diminuem as amplitudes térmicas e portanto por si só trazem conforto interior, permitem diminuir necessidades energéticas anuais e os seus benefícios são potenciados pela utilização de isolamento térmico adequado.

Mas afinal como se constrói uma cobertura verde?

Alguns principais requisitos de uma cobertura verde são: garantir que o isolamento térmico utilizado é insensível à água; que suporta cargas vindas do substrato e que é aplicado de forma correcta na cobertura.

Assim, o isolamento térmico que melhor responde a estes requisitos é o XPS (poliestireno extrudido. Este garante uma absorção de água por imersão mínima (<0.7% em volume), uma resistência à compressão elevada e uma absorção de água por difusão muitíssimo reduzida. É o isolamento térmico com melhor desempenho nesta solução construtiva.

As coberturas verdes podem ser de vários tipos, dependendo essencialmente do tipo de vegetação, no entanto, as mais simples são compostas pelas seguintes camadas:

Laje (suporte estrutural e pendente)
Sistema de impermeabilização
Isolamento térmico XPS
Manta drenante (lâmina granular e geotêxtil)
Terreno vegetal